Travessia da Serra Fina, solo - Final
DIA 3: Pico dos 3
Estados
Acordei por volta das 5:40h, antes do sol. O céu ainda
estava perfeitamente límpido, ligeiramente azul com uma borda laranja, de onde
em poucos minutos emergiu o astro rei, que inaugurou o dia. Após várias fotos,
tomei café a arrumei minha mochila. Era hora de despedir da Pedra da Mina e
descer para o Vale o Ruah. Por volta das 9h iniciei o percurso.
A descida é acentuada, e o tempo todo você é
contemplado com a visão do Vale. De longe, parece que o vale e recoberto por
uma graminha baixa, mas chegando um pouco mais próximo, pode-se ver que
trata-se de capim elefante. Bem ao fundo, é possível ver o tímido Rio Verde fazendo
curvas suaves vale a dentro.
Chegando no vale, encontro vários saguões, enormes áreas de camping. A frente, vários caminhos, mas todos com o mesmo destino, uma vez que o vale vai se estreitando. Logo já se está ao lado do rio Verde. Aproveitei uma árvore à margem do rio e fiz uma parada. Enchi minha reserva d'agua, dessa vez cerca de 4L de água.
A partir desse ponto, a trilha não ia na direção que eu
queria, procurei e não achei nenhuma que fosse. Resolvi varar o capim. Deu muito
trabalho mas consegui, cheguei na borda do morrote desejado, subi numa pedra e
fui comer uma barra de cereais. Enquanto fitava o vale, notei que onde eu
estava não fazia sentido algum, eu estava completamente fora da rota. Desci
novamente, varei mais capim e voltei a trilha. A partir daí segui o caminho
correto.
Continuei pela crista. Chegando no alto já é possível ver o
Cabeça de Touro e o Cupim de Boi. No caminho, alguns morrotes mais suaves, e pouco antes do Cupim, um pequeno trecho de mata. Enquanto seguia para o Cupim, notei uma enorme
nuvem vindo do lado de SP, ela chegou até a crista, mas não foi capaz de
ultrapassá-la. Após o Cupim, desci e passei por um trecho de bambus e algumas
árvores, aproveitei a sombra para fazer um lanche. Logo a frente havia uma
pequena área de camping, e após grande trecho de capim elefante, já iniciei a subida final para o pico dos
Três Estados. A subida foi razoável, e por volta de 16h já estava descansando no topo do pico.
Pico 3 Estados(esq.), pico Cabeça de Touro(dir.) e Cupim de Boi, a esquerda do Cabeça de Touro. |
Próximo ao Cupim de Boi. Pedra da Mina ao fundo. |
Mais uma vez, um espetáculo de visual. O lado do Rio e Sampa
recoberto de nuvens, enquanto Minas completamente limpo. Estava sozinho no pico, e não tive pressa em
escolher o local para a barraca.
O pico dos Três Estados, como o próprio nome já diz, é o
ponto onde os estados de Minas, Sampa e Rio se “tocam”. Lá existe um marco de metal, uma espécie de
pirâmide, e em cada uma de suas três arestas (que não estão contidas no plano do solo) está escrito o nome de um dos três estados.
É sabido que a Serra Fina é habitada por roedores, que furam
barracas e mochilas atrás de comida. Eu havia levado mortadela. Com receio do
cheiro atrair os roedores, prendi a bendita em um mastro de metal que existe
por lá. Se um rato conseguisse subir lá, seria merecedor do prêmio.
Por fim, depois de tudo arrumado. Fiquei apenas aguardando o
pôr do sol, que dessa vez contou com algumas nuvens para ornamentar o espetáculo. E ao escurecer, me recolhi em minha barraca.
DIA 4: Alto dos Ivos
e fim da travessia
Pela manhã, ao sair da barraca, fui logo conferir se
mortadela ainda estava no mastro. Estava lá, geladinha, devido às baixas
temperaturas da madrugada.
O cenário se mantinha, ainda um mar de nuvens a leste,
enquanto Minas permanecia límpido. No Rio, a serra do Itatiaia exibia sua
imponência, acima das nuvens. Era possível ver claramente o Pico das Agulhas
Negras, e foi bem próximo dele que o sol emergiu.
Após o café da manhã, arrumei minha mochila e me preparei
para o dia final. Era hora de descer a serra.
As 9:30h parti para as cristas. Inicialmente uma descida mais suave, até que se inicia uma mais suave. A seguir, o tradicional sobe e desce de alguns
morrotes, até a ultima subida mais forte, em direção ao Alto dos Ivos, chegando
lá por volta das 11:40h. No topo existe um totem de pedra, com cerca de 1 metro.
E como na Pedra da Mina, também não possui capim elefante.
A partir desse ponto, andei pouco mais de 1h até, enfim,
deixar a crista e entrar numa mata. Esse trecho da mata é muito bonito, começa
por uma trilha bem marcada. Depois a vira uma estradinha abandonada, cheia de
mato. No caminho, a preciosa água. Desci durante 1h, até chegar o sítio do
Pierre. O sítio possui várias casas enormes, até mesmo quadra de futsal. Mas
aparentemente está tudo abandonado.
Pra quem tem resgate, esse é o fim da linha. Mas não era o
meu caso, continuei a descer pela estradinha. Já quase chegando no asfalto,
passei por uma casa. Parei pra pedir informação sobre transporte. Como de
práxis, acabei sendo convido pra um cafezinho, e claro, não recusei. Descobri
que não iria passar ônibus por ali, e minha única chance seria uma carona.
As 15:30h, lá estava eu na BR com o dedão em posição. Estava
pouco promissor, mas tive sorte. Depois de 40min, um caminhão parou uns 100m
antes de mim. O motorista desceu e foi ver alguma coisa no caminhão. Era a
minha melhor chance, então fui conversar. Chegando próximo ao caminhão notei
que ele estava atrás do caminhão mandando um “N° 2”. Pra não constranger o cara
e perder minha carona, esperei ele ”aparecer” pra então pedir a carona. E
assim, sem maiores problemas, consegui carona até Varginha, de onde peguei um
busão para BH.
Na BR-354, contando com a sorte. |
Considerações Finais
Roedores:
Embora eu não tivera problemas com roedores, já vi vários relatos de pessoas que tiveram suas barracas e até mesmo suas mochilas furadas pelos bichanos. Então fiquem espertos.
Água:
Eu não sou de beber muita água, e consigo ficar muito tempo com pouca água. Mas pra quem consume muito, recomendo levar entre 5 e 6 litros. Nessas condições, água não é peso a se economizar.
Dificuldade:
Considero que o tempo ideal para se realizar essa travessia são 4 dias, simplesmente pelo prazer de se acampar em cada um dos 3 grandes picos do caminho, mas isso é muito pessoal. Dessa forma, se realizada em 4 dias e com tempo bom, considero a travessia fácil. É claro, se tiver um tempestade ou uma simples neblina, fica mais complicado. Acredito que se for realizada em 3 dias, já ficaria moderada, e seria uma travessia bem puxada, se realizada em 2 dias. Lembrando que pra isso deve-se ter um preparo físico muito bom, "ahhh, mas eu faço academia", não, só isso não é suficiente. Bom preparo físico pra uma montanha é ter subidos outras menores, é procurar na memória e não se lembrar da última subida que te fez por a língua pra fora e parar pra descansar, morto.
Embora eu não tivera problemas com roedores, já vi vários relatos de pessoas que tiveram suas barracas e até mesmo suas mochilas furadas pelos bichanos. Então fiquem espertos.
Água:
Eu não sou de beber muita água, e consigo ficar muito tempo com pouca água. Mas pra quem consume muito, recomendo levar entre 5 e 6 litros. Nessas condições, água não é peso a se economizar.
Dificuldade:
Considero que o tempo ideal para se realizar essa travessia são 4 dias, simplesmente pelo prazer de se acampar em cada um dos 3 grandes picos do caminho, mas isso é muito pessoal. Dessa forma, se realizada em 4 dias e com tempo bom, considero a travessia fácil. É claro, se tiver um tempestade ou uma simples neblina, fica mais complicado. Acredito que se for realizada em 3 dias, já ficaria moderada, e seria uma travessia bem puxada, se realizada em 2 dias. Lembrando que pra isso deve-se ter um preparo físico muito bom, "ahhh, mas eu faço academia", não, só isso não é suficiente. Bom preparo físico pra uma montanha é ter subidos outras menores, é procurar na memória e não se lembrar da última subida que te fez por a língua pra fora e parar pra descansar, morto.
Parabéns pelo relato muito bom mesmo, em maio estarei indo pra serra fina e espero ter mais perrengues que você hahahaha
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