quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Travessia da Serra Fina - Parte II



Travessia da Serra Fina, solo - Final


     Segunda e última parte do relato. Para ler a Parte I (clique aqui)

DIA 3: Pico dos 3 Estados

     Acordei por volta das 5:40h, antes do sol. O céu ainda estava perfeitamente límpido, ligeiramente azul com uma borda laranja, de onde em poucos minutos emergiu o astro rei, que inaugurou o dia. Após várias fotos, tomei café a arrumei minha mochila. Era hora de despedir da Pedra da Mina e descer para o Vale o Ruah. Por volta das 9h iniciei o percurso.

     A descida é acentuada, e o tempo todo você é contemplado com a visão do Vale. De longe, parece que o vale e recoberto por uma graminha baixa, mas chegando um pouco mais próximo, pode-se ver que trata-se de capim elefante. Bem ao fundo, é possível ver o tímido Rio Verde fazendo curvas suaves vale a dentro.

Vale do Ruah.
 

     Chegando no vale, encontro vários saguões, enormes áreas de camping. A frente, vários caminhos, mas todos com o mesmo destino, uma vez que o vale vai se estreitando. Logo já se está ao lado do rio Verde. Aproveitei uma árvore à margem do rio e fiz uma parada. Enchi minha reserva d'agua, dessa vez cerca de 4L de água.

Área de camping no Vale do Ruah.
Rio Verde

     A partir desse ponto, a trilha não ia na direção que eu queria, procurei e não achei nenhuma que fosse. Resolvi varar o capim. Deu muito trabalho mas consegui, cheguei na borda do morrote desejado, subi numa pedra e fui comer uma barra de cereais. Enquanto fitava o vale, notei que onde eu estava não fazia sentido algum, eu estava completamente fora da rota. Desci novamente, varei mais capim e voltei a trilha. A partir daí segui o caminho correto.

Vale do Ruah. Na parte  estreita, próximo ao Rio Verde.

     Continuei pela crista. Chegando no alto já é possível ver o Cabeça de Touro e o Cupim de Boi. No caminho, alguns morrotes mais suaves, e pouco antes do Cupim, um pequeno trecho de mata. Enquanto seguia para o Cupim, notei uma enorme nuvem vindo do lado de SP, ela chegou até a crista, mas não foi capaz de ultrapassá-la. Após o Cupim, desci e passei por um trecho de bambus e algumas árvores, aproveitei a sombra para fazer um lanche. Logo a frente havia uma pequena área de camping, e após grande trecho de capim elefante, já iniciei a subida final para o pico dos Três Estados. A subida foi razoável, e por volta de 16h já estava descansando no topo do pico.

Pico 3 Estados(esq.), pico Cabeça de Touro(dir.) e Cupim de Boi, a esquerda do Cabeça de Touro.
Próximo ao Cupim de Boi. Pedra da Mina ao fundo.

     Mais uma vez, um espetáculo de visual. O lado do Rio e Sampa recoberto de nuvens, enquanto Minas completamente limpo.  Estava sozinho no pico, e não tive pressa em escolher o local para a barraca.

     O pico dos Três Estados, como o próprio nome já diz, é o ponto onde os estados de Minas, Sampa e Rio se “tocam”.  Lá existe um marco de metal, uma espécie de pirâmide, e em cada uma de suas três arestas (que não estão contidas no plano do solo) está escrito o nome de um dos três estados.

Barraca montada. Pico Cabeça de Toura no fundo.

     É sabido que a Serra Fina é habitada por roedores, que furam barracas e mochilas atrás de comida. Eu havia levado mortadela. Com receio do cheiro atrair os roedores, prendi a bendita em um mastro de metal que existe por lá. Se um rato conseguisse subir lá, seria merecedor do prêmio.

     Por fim, depois de tudo arrumado. Fiquei apenas aguardando o pôr do sol, que dessa vez contou com algumas nuvens para ornamentar o espetáculo. E ao escurecer, me recolhi em minha barraca.

Por do Sol visto do Pico 3 Estados.

DIA 4: Alto dos Ivos e fim da travessia

     Pela manhã, ao sair da barraca, fui logo conferir se mortadela ainda estava no mastro. Estava lá, geladinha, devido às baixas temperaturas da madrugada.

     O cenário se mantinha, ainda um mar de nuvens a leste, enquanto Minas permanecia límpido. No Rio, a serra do Itatiaia exibia sua imponência, acima das nuvens. Era possível ver claramente o Pico das Agulhas Negras, e foi bem próximo dele que o sol emergiu.

Pirâmide no Pico 3 Estados. Nome dos 3 estados em metal.

     Após o café da manhã, arrumei minha mochila e me preparei para o dia final. Era hora de descer a serra.

     As 9:30h parti para as cristas. Inicialmente uma descida mais suave, até que se inicia uma mais suave. A seguir, o tradicional sobe e desce de alguns morrotes, até a ultima subida mais forte, em direção ao Alto dos Ivos, chegando lá por volta das 11:40h. No topo existe um totem de pedra, com cerca de 1 metro. E como na Pedra da Mina, também não possui capim elefante.

Alto dos Ivos

     A partir desse ponto, andei pouco mais de 1h até, enfim, deixar a crista e entrar numa mata. Esse trecho da mata é muito bonito, começa por uma trilha bem marcada. Depois a vira uma estradinha abandonada, cheia de mato. No caminho, a preciosa água. Desci durante 1h, até chegar o sítio do Pierre. O sítio possui várias casas enormes, até mesmo quadra de futsal. Mas aparentemente está tudo abandonado.

Mar de nuvens. Último trecho da crista.
Trilha na mata

     Pra quem tem resgate, esse é o fim da linha. Mas não era o meu caso, continuei a descer pela estradinha. Já quase chegando no asfalto, passei por uma casa. Parei pra pedir informação sobre transporte. Como de práxis, acabei sendo convido pra um cafezinho, e claro, não recusei. Descobri que não iria passar ônibus por ali, e minha única chance seria uma carona.

Chegando no sítio do Pierre.

     As 15:30h, lá estava eu na BR com o dedão em posição. Estava pouco promissor, mas tive sorte. Depois de 40min, um caminhão parou uns 100m antes de mim. O motorista desceu e foi ver alguma coisa no caminhão. Era a minha melhor chance, então fui conversar. Chegando próximo ao caminhão notei que ele estava atrás do caminhão mandando um “N° 2”. Pra não constranger o cara e perder minha carona, esperei ele ”aparecer” pra então pedir a carona. E assim, sem maiores problemas, consegui carona até Varginha, de onde peguei um busão para BH.

Na BR-354, contando com a sorte.

Considerações Finais

     Roedores:

     Embora eu não tivera problemas com roedores, já vi vários relatos de pessoas que tiveram suas barracas e até mesmo suas mochilas furadas pelos bichanos. Então fiquem espertos.

     Água:

     Eu não sou de beber muita água, e consigo ficar muito tempo com pouca água. Mas pra quem consume muito, recomendo levar entre 5 e 6 litros. Nessas condições, água não é peso a se economizar.

     Dificuldade:

    Considero que o tempo ideal para se realizar essa travessia são 4 dias, simplesmente pelo prazer de se acampar em cada um dos 3 grandes picos do caminho, mas isso é muito pessoal. Dessa forma, se realizada em 4 dias e com tempo bom, considero a travessia fácil. É claro, se tiver um tempestade ou uma simples neblina, fica mais complicado. Acredito que se for realizada em 3 dias, já ficaria moderada, e seria uma travessia bem puxada, se realizada em 2 dias. Lembrando que pra isso deve-se ter um preparo físico muito bom, "ahhh, mas eu faço academia", não, só isso não é suficiente. Bom preparo físico pra uma montanha é ter subidos outras menores, é procurar na memória e não se lembrar da última subida que te fez por a língua pra fora e parar pra descansar, morto.


Um comentário:

  1. Parabéns pelo relato muito bom mesmo, em maio estarei indo pra serra fina e espero ter mais perrengues que você hahahaha

    ResponderExcluir