A Serra do Gandarela
A Serra do Gandarela faz parte da grandiosa Serra do
Espinhaço, e está localizada à aproximadamente 40km de BH. Ela se estende pelos
municípios de Barão de Cocais, Santa Barbara, Itabirito, Rio Acima e Caeté, e é
limitada pela Serra do Caraça ao leste e Serra da Piedade ao norte. A Gandarela é adornada por centenas de nascentes, muita mata atlântica, campos
rupestre e de altitude, além de diversas cavernas e cachoeiras.
Mapa da região, incluindo a travessia (linha rosa). |
Devido a grande importância ambiental, hídrica e histórica da região, foi criado um projeto para transformar a região em parque nacional. No entanto, a região também é rica em minério de ferro, e a Vale pretende transformar boa parte da região em um enorme buraco sem vida, destruindo nascentes, cachoeiras e toda diversidade da flora e fauna presente.
Se a Vale conseguir aprovação para o projeto, alguns trechos
dessa travessia jamais poderão ser refeitos e se tornarão apenas história.
Saiba mais em http://aguasdogandarela.org/
Esboço do trajeto. |
Dia 1: Cachoeira 27
Voltas e o Ribeirão da Prata
Saí de casa meio atrasado, como sempre. Segui para o centro.
Eu ia pegar um ônibus direto pra Honório, mas passou um pra Rio Acima, e
resolvi pegá-lo, pois não sabia o quão mais teria que esperar. No caminho,
conversando com trocador, ele sugeriu descer em um dado ponto e pegar um outro
ônibus, evitando o baldeio em Rio Acima. Assim eu fiz, esperei bastante, mas
enfim ele passou. Saltei do busão no trevo para Honório, por volta das 9:30h.
Caminhei cerca de 10 mim até a praça, onde tomei café em uma padaria.
O início da trilha fica na rua atrás da praça. Existe uma estrada à esquerda,
enquanto a trilha segue pela mata.
Entrando na mata já começa uma subida, e em poucos minutos já se chega à
estrada principal. Esse ponto é importante, pois é onde inicia, de fato, o
caminho para a cachoeira 27 Voltas. Atravessando a estrada, encontrei a trilha
ladeando a encosta. A trilha até a cachoeira tem uma característica
interessante, ela segue uma curva de nível, com uma ligeira inclinação. Isso se
deve ao fato dela acompanhar uma captação de água, dessa forma, existe um
pequeno filete d’agua a sua direita.
Inicialmente, ela segue por uma área de
vegetação baixa. Mais a frente, entra-se na mata e o cenário fica muito mais
bonito, a trilha fica encoberta por
folhas, há muitas aves, flores e tudo ao som do riacho que corre no fundo do
vale. A engenharia do pequeno canal é bem interessante, e em vários pontos
foram construídos pontes para a água passar, em outros, túneis.
Início da trilha para a cachoeira "27 Voltas" |
As 12:30h cheguei a cachoeira, haviam dois ciclistas por lá,
mas já estavam de saída. A cachoeira 27 Voltas possui duas quedas seguidas, e
se chega exatamente entre as duas. Bati algumas fotos e tive a sorte de
apreciar um “bando” de borboletas se aquecendo ao sol.
Cachoeira "27 Voltas". Queda de cima. |
Algumas das centenas de borboletas que se aqueciam ao sol. |
Seguindo em frente, tem-se uma subida, deixando a mata e
prosseguindo pela trilha em meio a vegetação rasteira. Depois de cruzar uma
estrada e subir mais um pouco, começa uma descida suave, ao final, um riacho
com um pequeno poço. Após o riacho, retoma a subida, logo acima, um antigo
forte, talvez da época da guerra dos Emboabas. O forte está tomado pelas
árvores e o chão totalmente acidentado, apesar disso, foi possível andar pelo
seu interior.
Continuando a norte, terminei de subir o pequeno morrote e
comecei a descer em direção ao Ribeirão da Prata. Próximo ao rio, a trilha que
eu deveria tomar desapareceu, resolvi explorar uma outra que estava muito boa,
na esperança de conseguir ir na direção correta.
Chegando ao ribeirão, havia os restos de uma antiga ponte,
as vigas ainda estavam lá, perfeitas. Mas os pranchões foram removidos. Gostei
do lugar e resolvi fazer uma parada para lanchar. Após comer, cruzei o rio por
uma das vigas e segui a antiga estradinha, tomada pelo mato. Andei cerca de 1.5
km, e só estava distanciado do trajeto. Achei melhor voltar e seguir o
planejado. De volta a velha ponte, já era mais de 16:30h. Decidi acampar por lá
mesmo, pois achei o lugar aconchegante.
Vigas de uma antiga ponte sobre o Ribeirão da Prata. |
Poço da Ponte. |
Aproveitei o poço da ponte para um banho relaxante. No início da noite preparei o jantar. Comi sentado numa viga. Após a refeição, me retirei em minha
casa amarela. Durante a noite, caiu um grande temporal, com vento e muitos
raios. Isso tornou a noite bem mais agradável.
Dia 2: Cruzando a
Serra do Gandarela
Na manhã seguinte, a
chuva já tinha parado complemente, apesar disso, o tempo ainda estiva nublado. Os
resquícios da chuva podiam ser observados no ribeirão, que no dia anterior
estava completamente límpido, agora estava laranja. Segue um pequeno vídeo mostrando o local. Detalhe, as vigas estavam extremamente escorregadias, mas só percebi quando estava no meio do trajeto.
Arrumei a mochila, as 9:30h continuei o trajeto. Primeiro
voltei o pequeno trecho até próximo um pequeno córrego, nesse ponto tive que
varar mato até chegar do outro lado. Desci um pouco e já consegui encontrar a
trilha. Pela trilha, desci novamente até o Ribeirão da Prata, em um ponto mais
acima do rio. Após o rio, bordeia-se um
morrote e pega uma estrada nova e ampla, trata-se do olho da futura principal
cava da Vale. Essa área é vigiada o tempo todo, enquanto eu descia pela
estrada, um carro de vigilância passou pela bifurcação a minha frente, me
viram, mas seguiram adiante. Na bifurcação, tomei a esquerda, rumo ao norte.
Eu estava no pé da crista principal da Serra do Gandarela, e
pretendia cruzar a serra a partir dalí. O problema é que eu não sabia se seria
possível, havia uma estradinha até certo ponto, mas depois era um paredão. Eu
fiz uma aposta, que conseguiria atravessar ali, caso não fosse possível teria
que dar uma volta de no mínimo 12km. Era um desnível de 500m em 3km, segui
subindo pela estradinha, em um trecho de mata atlântica. Inclusive, essa região
que a Vale pretende destruir, é quase toda recoberta por mata. A mata ficou pra
trás, e a estradinha findou poucos metros a frente, no topo de um morrote, bem
na base do paredão duvidoso.
Era a hora da verdade, eu tinha que achar um meio, e lá fui
eu, mato adentro. Subi mais um pouco, até chegar na região mais inclinada, a
partir daí segui a direita, ladeando e procurando um ponto melhor pra subir. A
inclinação foi ficando mais suave e achei um bom lugar para subir. A partir daí
a vegetação ficou rasteira novamente, sem dificuldade para locomoção. Desse
ponto eu já conseguia ver o topo da serra, e segui subindo, quando cheguei lá,
vi que ainda não era o topo, mas estava mais a frente, dava pra ver. De novo,
chegando no topo, ainda tinha muito o que subir, e assim continuei naquela
subida puxada e interminável. O trajeto era sobre um crista estreita (é uma
crista perpendicular à crista principal da serra), com um abismo ao norte, que
era um grotão com uma das nascentes do Ribeirão da Prata. Lembrava muito a
Serra Fina, e eu apelidei esse trecho como “trecho da Serra Fina”. Nessa crista
tem alguns marcos geodésicos, e andar por ali da pra entender bem o motivo do
interesse da Vale, o solo é minério puro.
Parte da "serra fina". Minério de ferro saltando aos olhos. |
Enfim, por volta das 14:15h cheguei ao topo ( ~1630m de
altitude). Lá existe uma estrada que segue pela parte alta da serra,
acompanhando a crista. Seguindo a estrada a leste, passei por uma antiga torre,
aparentemente abandonada. Continuando pela estrada, fui descendo e logo adiante
deixei a crista, em direção à leste, já pelo outro lado da serra. Desci bem,
por uma estrada, até chegar no Lago do Metro. Trata-se de um lago natural, com
aproximadamente 200m de comprimento.
Na borda do lago existe uma encruzilhada, tomei a estradinha
a sul. Pouco a frente passeio por uma antiga mineração abandonada. Enquanto
passava pela mineração, ouvi o barulho parecido com sino. Isso era muito
estranho, pois não havia sinal de gente por ali. Até que de repente, aparece
uma égua com o sino no pescoço, e tudo ficou explicado.
A partir desse ponto, deixei a estradinha batida e comecei
por uma estrada abandonada, completamente tomada pelo mato. O céu azul logo foi
encoberto pelo verde da copa das árvores, o vento quente se tornou denso, e fluía
por entre a vegetação, repleto de aromas. Poucos metros abaixo, o Ribeirão
Preto se encarregava da trilha sonora. Eu estava entrando no vale do Gandarela, uma
grande e densa porção de mata virgem, repleta de corres e vida.
No beira do caminho algo me chamou a atenção, era uma
pequena gruta. Ao me aproximar, duas aves voaram de lá. Eram dois jacus. Ela possui um degrau na entrada, e em cima um espaço que daria
pra dormir tranquilamente. Continuei a descida, e logo estava no fundo do vale,
bem ao lado do ribeirão.
O dia já estava um pouco escuro, as 16:40h cheguei à sede da
antiga Fazenda Gandarela. São várias casas, completamente abandonadas e tomadas
pelo mato. Enquanto passava, podia ouvir o ringir das dobradiças enferrujadas,
e o estalar dos assoalhos corroídos pelo tempo. Lugares abandonados tem um ar
diferente, e tudo fica mais interessante quando se passa por eles só, e ao fim
de uma tarde nublada.
O dia já estava prestes a findar, e eu seguia pelo caminho
de olho em bom local para o canpimg. Era possível montar a barraca em qualquer
ponto da trilha, e pouco abaixo tinha o ribeirão, mas como ainda tinha alguns
minuto segui a procura de um lugar mais prático. Já quase onde o caminho
encontra uma estradinha mais batida, encontrei um límpido riacho cruzando a
trilha, o lugar era plano e amplo. Já passava das 17h, então me estabeleci por
ali mesmo. Tomei um excelente banho no meu riacho particular, preparei o jantar,
me despedi das onças pintadas (presentes na região), e capotei na minha barraca.
Clique aqui para ler a parte final do relato!!
Pequena queda do riacho na parte de baixo da estrada. |
Muito bom o seu relato! eu ja fiz algumas vezes a 27 voltas mas nao sabia que ainda teria tanta coisa bonita à frente! bom saber e aguardo a continuação do teu relato!
ResponderExcluirObrigado, Fill.
ResponderExcluirAquela região tem um infinidade de possibilidades.
Em breve posto a segunda parte.
Abraço
muito bom mesmo!!! pena que tem que esperar a segunda parte!!!!
ResponderExcluirparabens vc fez um mapa detalhado para passar
ResponderExcluirPretendo fazer um percurso semelhante e sozinho tb.Obrigado por compartilhar sua experiência.
ResponderExcluirBOA TARDE como faço para entrar em contato com a pessoa que fez essa trilha ?
ResponderExcluirMuito bom seu relato.
ResponderExcluirTem essa trilha disponível no wickloc ?
Muito bom o relato! Aguardo o final!
ResponderExcluirQuem anima fazer
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