Parte final da travessia realizada na região da Serra do Gandarela, em solitário. Clique aqui para ler a primeira parte.
Dia 3: Rumo a Vigário
da Vara
Acordei por volta das 7:30h, enrolei um pouco e levantei por
volta das 8h. O céu estava encoberto por nuvens, e um vento gélido circulava
pela mata. Após tomar café e arrumar as coisas, segui pela trilha. Primeiro
passei pelo riacho e logo à frente me deparei com um mar de formigas. Era uns
5m de trilha totalmente encoberto pelas bichinhas. Passei rápido, pra não dar
tempo delas subirem em mim. Esse trecho era plano, e pouco depois cheguei em
uma estrada. Nesse ponto tomei à direita, sentido sul. Iniciei a subida
deixando o colo do vale.
Foram cerca de 4km de uma agradável subida, sempre rodeado
por mata. Já quase no topo, fui surpreendido por uma bela aranha caranguejeira,
ela descia lentamente pela estradinha, sem muitas preocupações. No fim da
subida, algo desagradável, um enorme buraco, tratava-se uma mina.
Tranquila pela estrada. |
A mata já tinha ficado pra trás, e restou apenas um descampado. Lá de cima é possível ver todo o vale por onde eu tinha passado, uma bela região toda encoberta por mata nativa.
O alto da serra é cortado por um estradão bem amplo. Andei
pelo estradão menos de 1km, descendo a serra a leste, e logo já peguei uma
trilha a direita. Pouco a frente já estava de volta à mata, em uma trilha bem
estreita e acidentada.
Vale do riacho Gandarela, onde está localizada a fazenda. |
Essa seria a descida final antes de chegar à região de
Vigário da Vara. Logo no início da trilha já passei por um mirante, de onde é
possível ver todo o vale e as montanhas opostas, que nada mais é, do que a
borda oeste da Serra do Caraça, além da cachoeira inóspita logo abaixo da
Capivarí. O tempo havia piorado bastante, não era possível ver com clareza os
picos do Caraça. Estava prestes a chover.
Borda do Caraça, encoberta pela nebrina.. Silhueta da cachoeira no centro. |
Após o mirante, segui em zig-zag acompanhando a trilha, que
nesse ponto era bastante íngreme. Alguns trechos exigem cuidado, pois possuem
enormes valas. A trilha terminou em um riacho, e do outro lado havia uma
pequena clareira, de onde seguia uma estradinha. Para se ter noção do relevo,
do alto da serra até esse ponto, foi um desnível de aproximadamente 630m, em
menos de 5 km de trajeto.
Riacho no fim da descida. |
Mais alguns minutos pela estradinha e eu já estava chegando
no vilarejo de Vigário da Vara. Atravessei a ponte sobre o córrego do Sarame, e
segui a estrada, que é na marginal do rio. As casas da vila são espaças, e
estão distribuídas pelas encostas.
Poucos metros após a ponte, começou a pingar, e foi
aumentando. Peguei rapidamente o meu anorak e aumentei o ritmo do passo. Já
quase no fim da estrada, notei a igreja à frente. Cheguei na “praça” da
igrejinha sob chuva forte, e não vi nenhuma varanda ou cobertura para me
abrigar. Acabei ficando espremido no “beiral” de uma casa velha.
No caminho, a perfeição. |
A chuva estava cada vez mais forte, e eu não conseguia nem
sentar. A praça era basicamente um gramado, com uma mini igreja (que cabe só
umas 10 pessoas) e uma pequena escola. A casa onde eu estava parecia abandonada,
mas a porta estava trancada. Enquanto aguardava a chuva diminuir, bati algumas
fotos e fiz um vídeo. Logo após eu terminar o vídeo, caiu um raio a dezenas de
metros de mim, bem diante meus olhos. O estalo foi ensurdecedor, e fez a
madeira da casa vibrar. O que me deixou mais bolado é que não caiu no alto
morro, caiu bem no fundo do vale, em um lugar que possivelmente há trilhas, e
eu poderia estar lá. Fiquei com a impressão que se eu não tivesse parado ali,
essa seria minha última trilha.
Pequena igreja do vilarejo. |
Vídeo no momento da chuva. Por pouco não registrei o raio.
Como estava na vila, achei melhor me informar sobre as
possíveis trilhas para subir a serra. Aguardei a chuva diminuir e fui procurar
algum morador. Voltei pela estrada e subi um morro procurando por uma casa com
“sinal de vida”. Acabei encontrando uma que tinha algumas pessoas reunidas na
varanda. Após alguma conversa, me convidaram para um caldo de galinha caipira
que acabara de ficar pronto. O tempo estava frio e eu todo molhado, como
recusar uma sopa dessas? A sopa estava deliciosa, a melhor que já comi na vida,
hauahaua. Depois de agradecer pelas informações e, principalmente,
pela sopa, voltei para a praça, onde havia deixado a mochila.
Passava das 16h, a chuva já tinha terminado. Segui pela velha
estradinha até o rio. Andei alguns metros pela margem e já encontrei uma
trilha. A trilha passa por um bambuzal e volta para o rio logo depois. Procurando
mais a frente, encontrei a continuação. Em seguida, cheguei em uma bifurcação.
O correto seria seguir a esquerda, mas resolvi explorar a direita. A partir
desse ponto, a subida tornou-se acentuada.
Cachu vista do mirante. |
No caminho, passei por dois minhocuçus, uma espécie de
minhoca gigante. Elas tinham mais de 1 metro, cada. A subida íngreme terminou
na crista de um dos morrotes da serra, e esse ponto era como um mirante. De lá
era possível ver a bela queda da cachoeira.
Olha o tamanho do bichinho. |
Já estava bem tarde, quase escurecendo. Eu ainda estava
muito longe do topo da serra. Achei que não valia a pena continuar, ainda mais
com o tempo chuvoso daquele jeito. Resolvi voltar e acampar próximo ao rio.
Fim do dia, hora de tomar banho e vestir uma roupa seca. |
Dia 4: Conceição do
Rio Acima e longa espera
Nesse último dia não tinha muito o que fazer, já que em
Vigário não teria transporte. Caminhei cerca de 10km pelo estradão, até
chegar em Conceição do Rio Acima, distrito de Santa Bárbara. A estrada acompanhava o rio Conceição, então sempre tinha um belo visual de água e muita mata.
Cheguei cedo, e fiquei esperando pelo ônibus. Ninguém sabia direito que horas teria ônibus. Cada um falava um horário, e dava
o horário e nada de ônibus. Fiquei lá deitado na calçada igual um mendigo.
Antiga igreja. |
Por volta das 16h, passou um carro por lá, e acabei
conseguindo uma carona até Barão. Chegando lá foi só pegar o busão de volta pra
BH.
Fiquei encantado com a região, já fiz outra travessia por lá e tenho mais algumas planejadas. Em algum momento, todos relatos serão publicados.
Antonio Junior
Olá! Como você está?
ResponderExcluirEu queria consultá-lo sobre a travessia da Serra Fina. Com um amigo queremos fazer-la, mas em sentido inverso: queremos partir desde Engheneiro Passos, mais precisamente a partir de Garganta do Registro, logo alcançar a crista, depois chegar à Pedra da Mina e, finalmente, terminar em Passo Quatro. A minha pergunta é se nós temos que pedir permissão para entrar. Nossa idéia é acampar em um dos campos de altitude, como Vale do Ruah.
Também queria perguntar se você conhece de algum transporte desde Engheneiro Passos a Garganta do Registro.
Desde já muito obrigado. Saudações. Emiliano Vidal
Olá Emiliano!
ResponderExcluirPara realizar a travessia não é necessário nenhum tipo de autorização. Você pode ir tranquilo. Apenas verifique a previsão do tempo antes, que é a única coisa que pode atrapalhar. Quanto ao transporte, vou ficar te devendo, realmente não tenho nenhum contato.
Abraços
Junior. Vi um relato seu sobre o Caparaó. Posso falar contigo a respeito ?
ResponderExcluirAtt Adilson
Adilsoncypriano@gmail.com
Cara to sem palavras viu moro em Nova Lima-Mg e nunca andei por estes lados . Estou emprecionado!!!
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